Pois é, galera. Vamos ao realismo. (também) É de política (no sentido aristotélico e maquiavélico do termo) que vivem as Relações Internacionais.
Essa semana, o Brasil decidiu apoiar um egipcio anti semita que já mandou queimar livros em seu país para a direção da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em detrimento deste coitado aí em cima e de outro brasileiro (Sr. Marcio Barbosa, atual secretário-adjunto da entidade). Pra quem não se lembra, o senador Cristovam Buarque disputou as eleições de 2002 e sempre teve sua imagem ligada à educação (já foi reitor da UnB, por exemplo). Portanto, tinha cara de um bom candidato pra UNESCO.
Mesmo assim, com um candidato com boa reputação e um dos poucos políticos brasileiros que não tem algum indício de sujeira na vida pública, e outro que já está lá e tinha chances, o Brasil quis mesmo o tal do Farouk Hosni. A notícia do link lá em cima deixa claro porque é considerado um anti semita. Então, comentemos o fato.
Lembram de um post em que comentávamos que o Brasil queria colocar o Amorim na Agência Internacional de Energia Atômica? (Veja aqui, item 5). Está aí, meus caros, a chave do mistério. O Lula gosta muito do Amorim (política também é feita de relacionamentos…) e tem dito por aí que ele é hoje o maior ministro de relações exteriores do planeta (não me perguntem qual). E nosso país, por razões diversas vezes já abordadas por aqui, não consegue um cargo sequer em qualquer agência internacional de peso desde que o Lulinha assumiu.
Aí juntou-se a fome com a vontade de comer. Se o Amorim ficar mesmo na direção da AIEA, o Lula consegue um destino nobre pro seu chanceller quando deixar a presidência e, ao mesmo tempo, coloca um brasileiro na direção de um dos mais importantes organismos internacionais (ainda mais em tempos de coréia do norte, paquistão, etc etc). O Lula aposta no prestígio do Amorim pra conseguir o cargo (política também é feita de relacionamentos…).
E o que isso tem a ver com a UNESCO e o pobre do Cristovam Buarque? Elementar, meus caros. Não pega bem ficar querendo tudo a toda hora. O Brasil quer deixar esse peixe pra pescar outro maior mais pra frente. Movimento estratégico normal.
Mas aí nosso país se colocou numa sinuca de bico. Os únicos candidatos com chance de levar a UNESCO eram brasileiros. Então, temos de apoiar o adversário. Que era o egípcio anti semita…
Nas contas dos estrategistas do Itamaraty, o custo político de se apoiar uma figura polêmica era menor do que o ganho de uma agência internacional de peso. Imagino (e tenho a sincera esperança) que eles tenham levado em conta o fato de que apoiar anti semitas pra qualquer coisa não pega bem… E já tem muita gente incomodada com isso… E tenham certeza de que vão se lembrar desse apoio nas eleições da AIEA…
Concluindo, o Brasil não apoiou o egípcio porque é anti semita, cruel, ruim, etc. Apóia por razões políticas. O problema é que, mais pra frente, pode perder apoio de muita gente, não porque eles são bonzinhos, mas porque podem estar atrás de um motivo para, também por razões políticas, apoiar um outro candidato.
E assim as peças se movimentam nesse grande tabuleiro de xadrez…
e não se esqueçam do votinhooo