“Qualquer maneira de amor vale amar.
Qualquer maneira de amor vale a pena.”
Milton Nascimento (Paula e Bebeto)
Em face à possibilidade de reeleição, o presidente Barack Obama se posicionou a favor da união homoafetiva, em declaração à ABC. O pronunciamento tem sido considerado um marco histórico na política dos Estados Unidos, uma vez que nenhum outro representante político assim o havia feito. Para além das fronteiras americanas, François Hollande – candidato francês eleito à presidência – também se pôs a favor da união entre casais do mesmo sexo, exaltando em sua campanha as liberdades individuais e a igualdade de direitos civis. Ao tomarem a questão para si, transcendendo a incorporação de novas demandas sociais, estes parecem enunciar uma nova era: a Era do Amor Livre.
Nas últimas décadas o movimento em prol da diversidade sexual ampliou seus capilares: Holanda, Espanha, Bélgica, Suécia, Noruega, Islândia, Canadá, Portugal, e África do Sul são apenas exemplos de países nos quais há reconhecimento formal. A Argentina foi pioneira na América Latina e o Brasil teve aprovação unânime no Supremo Tribunal Federal em 2011, tornando a regulamentação da união estável mais abrangente. Embora haja avanços neste sentido, há países em que a questão antecede o não reconhecimento legal: a homossexualidade é criminalizada – em alguns deles com previsão de pena de morte –, esbarrando numa série de questões culturais, sociais e religiosas.
Ainda assim, parecemos caminhar à ressignificação das relações humanas, agora estendida ao ambiente político. Seria ingênuo considerar que a retórica eleitoral eloquente apropriada pelos agentes do Estado e os avanços legais mencionados significarão o fim das desigualdades sexuais, tão pouco a construção de um amor libertário. Há muito a se fazer. Indicam, contudo, a mudança no imaginário social, no qual as relações “livres, leves e soltas” começam a ganhar espaço. Antes de se tratar da igualdade de direitos a caminho da universalização (e, então, da humanização), é também um movimento em consonância à complexidade de um mundo formatado por relações “pluri”, “multi” e “inter” – e outras coisas mais.
Nota: o amor livre ao qual nos referimos pouco tem a ver com a conotação promíscua, que geralmente (e erroneamente) lhe é atribuída, ou daquela que rejeita quaisquer interferências nos modelos de relação, como a religião e o Estado o fariam. Referimo-nos ao movimento contrário à institucionalização das relações afetivas em formas rígidas e envelhecidas, que não admitem a nova realidade social que se figura.
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