Se alguém me falar que haverá um “Diálogo Estratégico e Econômico Global“, eu logo penso que, pelo menos, os 20 países com maior importância no cenário internacional vão participar.
Ledo engano…
Os Estados Unidos promoveram entre ontem e hoje um evento com esse nome. E quem participou? Só os anfitriões e a China, claro! Até porque, segundo o Obama, os EUA e a China vão ‘moldar’ o século XXI.
Essa é a idéia que está por trás do tal do G-2. É como se fosse um bloco estilo G-20, G-8. Mas só com os poderosos EUA e China. Alguns especialistas acreditam que a coordenação entre as duas potências seria suficiente para, de fato, moldar o século XXI. Nem preciso recorrer aos números, já é de senso comum o poderio da China e dos EUA.
O problema é que a probabilidade de cooperação entre os dois é muito pequena. Pra quem gosta da teoria construtivista, dá pra resumir esse debate em torno da percepção que os atores têm de si. Não é possível, no meu ponto de vista, imaginar o baluarte (como diz o Giovanni) da democracia e dos Direitos Humanos com relações ‘carnais’ a ponto de dividir uma agenda que molde um século com um país de partido único, comunista, que não tem imprensa livre, direitos humanos, entre inúmeros outros fatores.
Até pro Obama com o seu discurso de mudança isso é forçar a barra demais. Ainda mais após alguns discursos, como o do Egito, em que ele diz que acredita nos valores democráticos.
E não é só eu que penso isso, com certeza. Nos Estados Unidos o Obama em carne e osso foi receber a delegação chinesa. O presidente da China foi? Nada. Esnobou o Obama e mandou um conselheiro de Estado e o vice primeiro ministro.
Além da democracia e dos direitos humanos, muito mais fatores impedem uma agenda comum. Clima, por exemplo. A China não quer reduzir suas emissões, enquanto os EUA já até lideram as conversas para um novo acordo global no fim do ano (mesmo os dois tendo assinado um memorando não penso que as coisas mudem assim tão facilmente, ainda mais em um contexto de retomada do crescimento chinês).
Geopolítica: a China tem uma influência crescente no mundo e vem aumentando sua presença militar, sobretudo no oceano índico (hoje um dos pontos-chave no mundo em termos geopolíticos) e na África. Os EUA tem influência na Europa e América. Não falo em conflito, mas é difícil imaginar cooperação entre os dois países, pelo menos hoje.
Pra quem gosta do realismo, esse conflito acontecerá no dia em que os custos da guerra forem menores do que os ganhos de uma eventual vitória. Algo que não ocorre hoje. E a China caminha para logo logo estar em pé de igualdade dos EUA em termos de poder. Por outro lado, para os que gostam das teorias liberais, à medida que os laços entre os países aumentar, como está ocorrendo de uma forma ou de outra, a possibilidade de conflito diminui.
Não penso que os Estados Unidos estejam em posição hoje de bater de frente com a China. E nem o contrário. Talvez por isso a aproximação entre os dois. De qualquer modo, não me arrisco a qualquer previsão. O xadrez da política às vezes nos prega peças. Que o diga o Cristovam Buarque!