[O bicho tá pegando no Afeganistão! Não esquecemos disso e estamos preparando um podcast especial sobre o tema para ir ao ar no sábado]
Qual foi a minha supresa ao abrir o envelope pardo da The Economist dessa semana? Essa imagem aí em cima. Uma montagem digna de uma criança usando o Paint com o nosso presidente recebendo um passe sabe-se lá de quem. A bola, não se dá pra ver nessa imagem, inclusive, é da marca Penalty. Junto dessa cena a pergunta que não quer calar: Whose side is Brazil on? (Do lado de quem o Brasil está?). Acesse a matéria aqui, em inglês.
A matéria levanta um ponto muito discutido aqui no blog desde de nossa primeira postagem: a tal política sul-sul do governo Lula.
E eles levantam um ponto realmente intrigante: os laços do Brasil e dos nos nossos vizinhos com países como China, Índia e Rússia vêm aumentando, enquanto a influência norte americana e européia no subcontinente vem caindo a cada dia.
Fiquei com a sensação de que eles apelam para o ditado bíblico: “Diga com quem andas que te direi que és”. E não podemos negar que estão certos.
O que dizer dos laços cada vez mais estreitos entre nós e os chineses? Estamos vendendo soja e aço e comprando sapato, móveis, computador e milhares de produtos industrializados a preços que nossa indústria não poderá concorrer jamais. Enquanto os preços das tais commodities estiverem nas alturas, excelente pra nós. Mas e aí? Esse modelo agro-mínero-exportador do Brasil nunca se sustentou por muito tempo… Vejam o caso do próprio óleo de soja. Eles querem o grão, mas com relação ao óleo, colocam uma tarifa ad valorem de mais de 100%. Ou seja, não querem nada que tenha passado pelo mais rudimentar processo de industrialização.
Falem o que quiser dos EUA, a maior parte do que vendemos para eles é manufaturado.
E a Rússia? Dá pra confiar neles? Que o digam os coitados que tentam vender carne pra lá. Estive num evento da FECOMERCIO aqui em São Paulo há algum tempo em que o ex presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango se queixava de que os russsos faziam de tudo para impedir a compra de qualquer tipo de carne do Brasil. Impuseram uma cota. Algum tempo depois representantes do governo russo estiveram por aqui para discutir o assunto e prometeram tomar uma medida. Ao chegar na Rússia, uma semana depois, tomaram a tal medida: cortaram pela metade a cota.
Isso sem falar no evidente desrespeito às normas internacionais e aos Direitos Humanos pelos bonitões aí de cima…
E a aproximação do Brasil com regimes ditatoriais na África? E o Haiti e o rolo do Conselho de Segurança? O silêncio quanto aos regimes ‘questionáveis’ mundo afora?
O que o Brasil quer, afinal? Trocar a dependência da Europa e dos EUA pela China e pela Rússia e outros tantos sujos na África? Sinceramente, prefiro os europeus que cumprem como ninguém os regimes internacionais e as regras do sistema e os americanos para quem vendemos produtos industrializados. E pelo menos já sabemos o que esperar deles!
É justa a preocupação do Brasil de reduzir a dependência dos EUA e Europa e buscar uma nova ordem internacional que represente a nova distribuição de poderes. Mas a que custos?
Por isso, acho que a pergunta da The Economist está mais do que correta: De que lado estamos, afinal? O que esperar do Brasil?
Só tenho medo, às vezes, da resposta!